Sinopse
A escola de Palo Alto faz uma aproximação interaccionista à cultura encontrando-se assim muito próxima do interacionismo simbólico (Alsina, 1999). Para o interaccionismo simbólico são os símbolos (linguagem verbal e não verbal) que permitem às pessoas comunicarem entre si e é mediante essa comunicação que se estabelece a sociedade. produto da interacção comunicativa, (p.199). Os indivíduos interpretam com auxílio dos outros. Os significados são construídos socialmente através das interacções (Bogdan e Biklen, 1994, p.55).
A interacção, entendida como um "dar e receber" diário entre professor e aluno (Delamont,1987, p.39), valoriza a visão subjectiva do mundo e da liberdade de cada um, atribuindo a alunos e professores um papel importante na construção das realidades vividas na sala de aula e na escola (Estrela, 1992, p. 142).
Interaccionismo Simbólico e
Escola de Palo Alto
Objectivamente o interaccionismo simbólico não se pode considerar como uma teoria. Pensa-se sim, estar-se perante uma orientação teórica que poderá abarcar outras teorias e/com as suas especificidades, até porque estas não poderão ser vistas como uma sequência de manifestos autónomos de uma qualquer impressão. O interaccionismo simbólico alberga em si um agregado comum de premissas respeitantes à comunicação e à sociedade. É o que apresentam Manis e Meltzer (1972), quando isolam, seis proposições básicas na definição deste conceito.
1. A mente, o eu e a sociedade não são estruturas distintas, mas processos de interacção pessoal e interpessoal;
2. A interacção simbólica é um ponto de vista que enfatiza a linguagem como um mecanismo primário, que culmina na mente e no eu do indivíduo;
3. A mente é concebida como a internalização de processos sociais no indivíduo;
4. Os comportamentos são construídos pelo sujeito no decurso da sua acção;
5. O veículo primário para a conduta humana é a definição da situação pelo autor;
6. O eu é constituído por definições tanto sociais como pessoais.
O “eu” não é visto como residindo no interior do indivíduo (…) é a definição que as pessoas constroem através da interacção com os outros. “Ao construir o eu as pessoas tentam ver-se como as outras as vêem, interpretando os gestos e as acções que lhe são dirigidas e colocando-se no papel da outra pessoa” (Bogdan e Biklen, 1994, p.57). Fundado nas interacções, o simbólico é a base do sentido que cada um dá às suas acções. Isto é, o sentido individual é fundado nas interacções, e aquilo que o “eu” faz é regulado por aquilo que o “nós” constrói, socialmente. Os indivíduos condicionam-se mutuamente.
Para o interacionismo simbólico “o significado que as pessoas atribuem às suas experiências, bem como os processos de interpretação, são elementos essenciais e constitutivos (…) àquilo que é a experiência. Para compreender o comportamento é necessário compreender as definições e o processo que está subjacente à construção destas.” (idem,p.55).Os indivíduos interpretam com auxílio dos outros. Os significados são construídos socialmente através das interacções .
O modelo sugere como objecto de estudo, a interacção do sujeito com os contextos que o rodeiam, o que indubitavelmente o relaciona com a psicologia e com a sociologia. Contrapõe-se à psicologia social individual, fundamentando-se, primitivamente como uma psicossociologia. Corrente de estudos da Escola Americana, a sua concepção tem como originário Herbert Mead, professor da década de 20 e cujos herdeiros mais representativos são Blumer, da Escola de Chicago - que, num artigo de 1969, denomina a herança de Mead de Interacionismo Simbólico -, Kuhn, da Escola de Iowa, e Goffman. A proposta apontava para a convergência entre indivíduo e sociedade, que aconteceria na comunicação. Sociedade, indivíduo e mente seriam três entidades indissociáveis, que constituiriam o acto social, desenvolvendo assim, Blumer (1980) os pressupostos do Interacionismo Simbólico:
§ O comportamento humano fundamenta-se nos significados dos elementos do mundo;
§ A fonte dos significados é a interacção social;
§ A utilização dos significados ocorre através de um processo de interpretação.
Donde sobressai a interacção como elemento constituinte, no desenvolvimento dos comportamentos dos sujeitos.
Entre dois sujeitos a comunicação nem sempre é visível. Estes poderão aperceber-se da presença um do outro, através de gestos ou outras percepções que irão agir no seu próprio comportamento. Toda a mudança de comportamento em co-presença tem um valor comunicativo.
A Escola de Palo Alto rompeu com a ideia da comunicação como uma transmissão de uma mensagem de um emissor a um receptor. Para eles a comunicação é um processo criativo em que participam múltiplas mensagens: os gestos, as palavras, o olhar, o espaço, etc.
A escola de Palo Alto desenvolveu teses originais acerca da comunicação que se baseiam na abordagem sistémica. A especificidade dos conceitos da abordagem desta escola é integrarem sistematicamente o contexto e as interacções em que a comunicação se insere. Nesta linha, a comunicação pode ser definida como “um sistema aberto de interacções”, o que significa que o que se passa entre os inter actuantes nunca se desenrola num “vazio social”, mas inscreve-se sempre num contexto (Marc & Picard, n.d, p.37).
Dando como exemplo a escola, esta constitui-se como um local “que a sociedade organiza, de forma explícita, para levar a cabo a socialização das novas gerações” (Pinto, 1995, p. 113), onde o aluno vai aprender a desenvolver condutas de relação interpessoal, as regras e normas, na sua interrelação com os pares e os adultos. Especificando, no contexto da sala de aula, a relação entre professor e aluno assume-se sempre como uma “actuação conjunta” (Delamont, 1987, Woods, 1990), onde o professor surge como uma pessoa-referência que exerce uma influência marcante no desenvolvimento pessoal e social dos seus alunos pelo poder de modelagem do seu comportamento (Carita &Fernandes,1997, p. 23). A interacção, entendida como um "dar e receber" diário entre professor e aluno (Delamont,1987, p.39), valoriza a visão subjectiva do mundo e da liberdade de cada um, atribuindo a alunos e professores um papel importante na construção das realidades vividas na sala de aula e na escola (Estrela, 1992, p. 142).
BIBLIOGRAFIA
Blumer, H. (1980). A natureza do interacionismo simbólico, In: Mortensen, C.D. Teoria da comunicação: textos básico. São Paulo:Mosaico.
Bogdan, R & Biklen, S. (1994). Investigação Qualitativa em Educação:Uma introdução à teoria e aos métodos.. Porto: Porto Editora.
Carita A. & Fernandes G. (1997). Indisciplina na sala de aula-Como prevenir? Como remediar?. Lisboa:Editorial.
Delamont, S. (1987). Interacção na sala de aula. Lisboa: Livros Horizonte.
Estrela, M.T. (1992). Relação Pedagógica, Disciplina e Indisciplina na aula. Porto: Porto Editora.
Littlejohn, Stephen W. (1978). Fundamentos teóricos da Comunicação Humana. Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Manis, Jerome G., Meltzer Bernard N. (1972). Conclusion, in Symbolic interaction. Bóston: Allyn &Bacon.pp.575-577.
Marc, E. , Picard, D., (n.d). Interacção Social. Porto: Rés.
Michel, S., (n.d). A comunicação interpessoal. In N., Aubert et al., (ed), Management, Porto: Rés,pp.309-373.
Pinto, C. Alves (1995) Sociologia da Escola. Amadora: Editora McGraw-HiLL de Portugal.
Saint-Georges, (1986). O gesto quotidiano de ensinar. Análise Social e Organizacional da Educação, in Instituto Politécnico de Lisboa/Escola Superiorde Educação, (ed), Lisboa: IPL/ESEL.
Woods, P. (1990). Teacher Skils and Strategies. London: The Falmer Press.
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