A sociedade é constituída por organizações sociais, grupos e indivíduos que possuem percepções e perspectivas próprias da realidade que os circunda. Dado isto, o conflito encontra-se presente na sociedade, uma vez que cada grupo e/ou indivíduo apresenta as suas convicções, podendo estas colidir.
Trata-se de um conceito em que, no dizer de Noronha (1992), as pessoas apresentam comportamentos e acções que provocam reacções. Estas podem ser de indiferença, agrado ou desagrado, dando origem ao conflito, na medida em que se criam estímulos provocando respostas antagónicas, incompatíveis ou divergentes.
Crawford & Bodine (1996) e Torrego (2003) explicam a origem do conflito em três fontes: escassez de recursos (tempo, dinheiro e propriedade), diferentes valores (crenças, prioridades e princípios) e quatro necessidades psicológicas básicas:
§ Pertença: conseguir oportunidade para partilhar e cooperar, utilizando o amor e a amizade.
§ Poder: capacidade de conseguir ser reconhecido e respeitado.
§ Liberdade: capacidade de fazer escolhas livres na vida.
§ Prazer: capacidade de se rir e divertir.
Este conceito e outros, como “Bullying”, “Mediação”, “Pares”, “Intervenção sistémica”, sobressaem claramente em todos os trabalhos disponibilizados pelos diversos grupos, estando todos eles, de alguma forma, encadeados uns nos outros, independentemente das suas especificidades.
Falar em resolução de conflitos em contexto escolar é algo relativamente recente. Os próprios programas associados à resolução de conflitos (tutorias), surgem como tentativa de resposta às preocupações manifestadas por professores, encarregados de educação e sociedade em geral, relativamente às diversas formas de violência constatadas nas escolas, com o objectivo de proporcionar aos alunos o conhecimento, e posteriormente a aplicação, de habilidades sociais e estratégias para se auto-regularem e se auto-controlarem e paralelamente com a intencionalidade de melhorarem o clima relacional existente.
Ao falar em “violência” indubitavelmente o tema recai sobre a problemática do Bullying, fenómeno que toma aspectos preocupantes, tanto pelo seu crescimento, quanto por atingir faixas etárias, cada vez mais baixas, relativas aos primeiros anos de escolaridade, podendo este ser encontrado em qualquer nível de ciclo de escolaridade, dentro de uma escola quer esta seja pública ou privada, rural ou urbana. Os próprios dados, recentes apontam no sentido da sua disseminação por todas as classes sociais e uma tendência para um aumento rápido desse comportamento com o avançar da idade.
Torna-se pertinente fazer-se uma distinção entre Bullying e possíveis maus relacionamentos, uma vez que não podemos confundir este com a indisciplina ou mesmo os maus comportamentos. As características predominante deste conceito, passam pela: vitima indefesa, persistência/continuidade, dor tolerada, desigualdade de poder, dirigida a um sujeito e exercida individualmente ou em grupo, exercidos sempre entre amigos e nunca entre estranhos, cruzando-se estas nos dissemelhantes tipos de Bullying, (físicos, verbais, psicológicos sociais e sexuais, em muitas situações os diversos modos sobrepõem-se).
Este fenómeno pode então definir-se como uma conduta agressiva de carácter repetitivo, intencional e prejudicial, dirigida por um indivíduo ou por um grupo de indivíduos contra outro, que não é capaz de defender-se a si mesmo, e que se desenrola em contexto escolar (Ramirez, 2001).
A sua definição passa ainda por uma distinção entre comportamentos verbais e físicos, Casanova, (2000), Craig (1998), Ericson (2001). Independentemente da expressão do comportamento ser directo ou indirecto, surge ainda uma outra categoria de comportamento referenciada por alguns autores como sendo psicológica (Ericson, 2001) ou relacional (Bjorkqvist, Lagerspetz & Kaukiainen, 1992).
Forma de
Agressão
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Expressão
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Comportamentos
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Física
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Directa
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Bater; dar pontapés; dar estalos; dar murros; dar palmadas; passar rasteiras; empurrar; sacudir; puxar o cabelo; beliscar; morder; acotovelar; destruir propriedade do colega; tirar os pertences ao colega; cuspir no colega; perseguir o colega; impedir/obstruir a passagem do colega.
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Indirecta
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Recrutar um colega para agredir outro; roubar ou esconder objectos dos colegas; partir ou destruir objectos dos colegas.
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Verbal
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Directa
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Gozar; chamar nomes; insultar; pôr alcunhas; ser sarcástico; ameaçar verbalmente; importunar ou aborrecer deliberadamente; emitir comentários maldosos/maliciosos; rebaixar; criticar aparência do colega; admoestação racial.
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Indirecta
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Espalhar rumores e/ou mentiras; escrever notas ou graffits maldosos; intrigar; caluniar/difamar; dizer coisas desagradáveis pelas costas do colega.
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Relacional
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Directa
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Dizer ao colega que ele não pode brincar com eles; afirmar ao colega não ser amigo dele; evitar/ignorar o colega; dizer que deixa de ser seu amigo a menos que faça o que ele lhe pede.
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Indirecta
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Excluir outros do grupo; manipular redes de amizade; encorajar os colegas a não brincarem com outro colega; tornar-se amigo de outro por vingança; não convidar deliberadamente o colega para festas ou saídas; dizer mentiras sobre o colega para outros não se darem com ele.
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Psicológica
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Directa
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Extorsão; coacção; ameaçar gestualmente; chantagear; utilizar gestos obscenos.
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Indirecta
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Enviar e-mails ameaçadores/desagradáveis; fazer chamadas anónimas ameaçadoras/ desagradáveis.
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Sexual
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Directa
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Exibicionismo; voyerismo; assédio; comentários ou insultos acerca de partes sexuais do corpo do colega; gozar acerca da orientação sexual do colega; apalpar ou agarrar alguém de um modo sexualmente sugestivo.
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Indirecta
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Espalhar rumores acerca de actividades sexuais do colega; divulgar comentários ou imagens de carácter sexual.
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Não estamos perante problemas recentes, exclusivos dos nossos dias. Defrontamo-nos com fenómenos que nos afectam a todos. A sua complexidade obriga a escola a criar condições que promovam a garantia de um ambiente seguro, em termos físicos ou emocionais.
Bjorkqvist, K., Lagerspetz, K. & Kaukiainen, A. (1992). Do girls manipulate and boys fight ? Developmental trends in regard to direct and indirect aggression. Aggressive Behavior, 18, 117-127.
Casanova, R. (2000). Questions d’ecole: prévenir et agir contre la violence dans la classe. Paris: Hatier.
Craig, W. (1998). The relationship among bullying, victimization, depression, anxiety, and aggression in elementary school children. Personality and Individual Differences, 24 (1), 123-130.
Crawford, D. & Bodine, R. (1996). Teachers Thought Processes. In Wittroc, M. C. (Edition). Hand book of research on teaching - A project of the American Educational Research Association. New York: Collin Macmillan Publishing Company, pp. 225-298.
Ericson, N. (2001). Adressing the problem of juvenile bullying. Washington: U.S. Department of Justice.
Noronha Zélia de; Noronha, Mário de (1992). Escola, Conflitos - Como Evitá-los, Como Geri-los? Lisboa: Escolar Editora.
Ramírez, F. (2001). Condutas agressivas na idade escolar. Amadora: McGraw Hill.
Torrego, J. C.(coord.) (2003). Mediação de Conflitos em Instituições Educativas. Manual para Formação de Mediadores. 1ª Edição. Porto: Asa.
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